ADVENTO


Por: Marcia Sanches Venturi (Coordenação Nacional - Fraternidade de Ubatuba, SP)

O Advento é um tempo de sinais, de atenção, de vigília, de acolhimento, de oportunidades únicas e de conexão com a vida e com Deus, que nos dá a liberdade para tomar atitudes. Atitudes que façam colocar-nos diante da vida, para termos a capacidade de ver, julgar e agir sempre à luz das palavras de Jesus de Nazaré que vem trazer-nos mais uma vez a Boa Nova. É essa Boa Nova que devemos viver no Advento.

Vamos cultivar a atenção dos que nos rodeiam, olhando nos olhos da vida refletida nos rostos de cada um que cruza nosso caminhar. Devemos sair de dentro do nosso ser adormecido na ignorância, para encontrarmos com nós mesmos, com a nossa verdadeira identidade de discípulos amorosos de Jesus.

Nesse tempo em que vivemos, tempo paranoico de incertezas, ansiedades e dualismos tão grandes, lembremos o que nos propõe o Papa Francisco através da Carta Encíclica Fratelli Tutti para a valorização da vida em comunhão, a convivência, o viver em sociedade e fraternidade, entendendo-nos como seres culturais e de uma grandíssima diversidade voltada para o respeito e a dignidade da pessoa humana.

 

Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade. Entre todos: “Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente”.[1]

 

O Papa traz também à reflexão, a leitura do respeito e do diálogo inter-religioso e o reconhecimento da dignidade humana como pressuposto pela ação da escuta amorosa e respeitosa:

 

O mandamento da paz está inscrito nas profundezas das tradições religiosas que nós representamos. (...) Nós, líderes religiosos, somos chamados a ser verdadeiros “dialogantes”, a agir na construção da paz, e não como intermediários, mas como mediadores autênticos.[2]

 

Sem esquecer o cuidado maternal/paternal para com os mais frágeis, lembrando do nosso querido Irmão Carlos de Foucauld, com sua atitude de amor, escuta,  respeito e diálogo despretensioso para com o povo Touareg no deserto da Argélia.

Neste Advento faz-se necessário que tenhamos uma tomada da consciência crítica para enxergar os/as mais próximos a nós, reconhecer e respeitar o seu espaço, ouvir e compartilhar suas vidas, dores e alegrias. Nesse Advento deverá ser gestado o novo em nós, cheio de sabor e de vida, pois é um tempo que deve trazer movimento em nossa vida. É o momento para destravarmos os sentidos do ouvir, ver, do escutar, tocar e sentir como irmãs e irmãos em Cristo, de pés no chão, caminhando com o outro, lado a lado, de mãos dadas, sem medos, sem angustias, sem ressentimentos.

A nossa vida está ameaçada pela colonização midiática virtual. A nossa dignidade está sendo invadida pela “individualidade programada” e pela própria administração desses meios. Por isso, coloquemos sobre a mesa, junto ao pão nosso de cada dia, o advento do discernimento, da abertura, do diálogo presente, para o encontro do bem comum de todos os seres humanos. Que transcendamos a nós mesmos e apontemos para a economia da partilha para sermos um para o outro.

Tomara que neste Advento possamos contagiar a todas e todos com a nossa alegria e esperança e que recebamos o Cristo, saindo ao seu encontro, como “Igreja em saída” que somos, como nos pede o Papa Francisco.

      

A Igreja “em saída” é a comunidade de discípulos missionários que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Tomam a iniciativa! A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva.[3]

 

Vem, Senhor Jesus! Venha trazer-nos a alegria de viver em fraternidade e solidariedade aqui e agora, levando a sua mensagem com o dom da vida que nos deu.

 


[1] FRANCISCO. Fratelli tutti. Carta encíclica sobre a fraternidade e a amizade social (03.10.2020). São Paulo: Paulus, 2020. (p.3, n. 8)
[2] FRANCISCO. Fratelli tutti. Carta encíclica sobre a fraternidade e a amizade social (03.10.2020). São Paulo: Paulus, 2020. (p.75, n. 284)
[3] FRANCISCO. Evangelii  Gaudium. Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual (24.11.2013). São Paulo: Paulinas, 2013. (p. 12, n. 24)



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