O adeus a Antoine Chaterlard, "A VOZ” de Charles De Foucauld

 

Ele era filho de um padeiro. Fazer o pão, parti-lo, partilhá-lo foram os gestos - reais e simbólicos - que o acompanharam nos sessenta anos que o Irmão Antoine Chatelard viveu no deserto argelino entre Tamanrasset e Assekrem. Sempre nos passos de Charles de Foucauld, a quem dedicou até ao fim um paciente e incansável trabalho de investigação e escrita, que o tornou conhecido também na Itália. Uma obra monumental que o tornou famoso também na Itália, sobretudo graças a algumas traduções como o volume “Verso Tamanrasset” publicado pelas edições Qiqajon da Comunidade de Bose.

A reportagem é de Anna Pozzi, publicada por Avvenire, 05-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini para Instituto Humanitas - Unisinos 


Chatelard, pequeno irmão de Jesus, francês nascido em 1930, foi um dos maiores conhecedores do "irmão universal". E ele estava trabalhando em um texto quando a Covid-19 o levo em poucos dias, em Marselha, onde ele havia retornado em 2016. Ele morreu no dia 1º de janeiro, mal conseguindo assomar ao limiar deste ano que verá  Foucauld proclamado santo. Para a pequena Igreja da Argélia, mas também para toda a Igreja universal, esta é outra perda gravíssima depois daquela de Monsenhor Henri Teissier, arcebispo emérito de Argel, falecido exatamente um mês antes.

Os dois se conheciam bem, embora vivessem em extremos opostos do imenso território argelino. Chatelard foi um homem do Sul, do deserto, que ligou estreitamente a sua vida à Foucauld. Existe uma extraordinária intimidade espiritual entre os dois. E um extraordinário senso de fraternidade. Nos mesmos lugares onde viveu e morreu Foucauld, o irmão Antoine também deixou traços profundos e uma memória indelével. E não apenas entre os poucos cristãos que ainda resistem naquela região fronteiriça, mas também e principalmente entre os locais.

Irmão Antoine foi o primeiro a regressar a Assekrem em 1955, para reestruturar a ermida onde o Irmão Carlos havia se retirado por alguns meses em 1911. Um lugar altamente simbólico e com uma magnífica vista para o céu, onde ainda hoje há a presença discreta mas carregada de significado, dos irmãozinhos de Jesus .

Antoine nunca se afastou muito dali. Depois de alguns anos, havia descido para Tamanrasset, que na época era uma grande aldeia, da qual foi cura e, de certa forma, o "notável", por ser "um dos homens mais idosos da cidade!" como ele brincava. Ele também foi o padeiro de Tamanrasset por um longo tempo. Conhecia todo mundo e todo mundo o conhecia, era um ponto de referência. "Estar aqui há sessenta anos - ele nos dizia - deve significar algo! A gente conhece a história e as pessoas”. Ele sabia que a presença da Igreja naquela terra era muito especial, mas também muito “frágil”. Dizia-o quase com sofrimento, enquanto as pequenas irmãs estavam prestes a deixar para sempre aqueles lugares que estavam tão impregnados de seu testemunho. “A pequena irmã Hayat - lembrava o irmão Antoine - trouxe à luz, boa parte da população daqui”. Para exprimir o sentido de pertença visceral - e recíproca - que ligava os poucos cristãos daquele povo.

“A nossa presença aqui - explicava - não se justifica por quantos somos ou pelas coisas que fazemos. Em vez disso, é uma questão de testemunho. O sentido é o de “ser-com”: com o outro, com o diferente, introduzindo uma diferença que só pode nos enriquecer mutuamente”. Da mesma forma, ele entendia o diálogo islâmico-cristão "vivido na relação cotidiana e no encontro". E também nisso o Irmão Antoine se referiu com frequência às palavras e à espiritualidade de Charles de Foucauld: "Nossa missão - dizia - é falar Dele e, sobretudo, permitir que Ele continue falando".

Livro de Antoine CHATELARD publicado no Brasil pela Editora Paulinas, 2009
Charles de Foucauld: o caminho rumo a Tamanrasset. (Col. Testemunhos de Santidade)


A PARÁBOLA DO FÓSFORO E A VELA

 

Autor desconhecido

 

Certo dia, o fósforo disse para a vela:

– Hoje irei te acender!


– Ah não - disse a vela. Você não percebe que se me acender, meus dias estarão contados? Não faça uma maldade dessa comigo…


– Então você quer permanecer toda a sua vida assim? Dura, fria e sem nunca ter brilhado? - perguntou o fósforo.


– Mas ter que me queimar… Isso dói demais e consome todas as minhas forças - murmurou a vela.

Então respondeu o fósforo:

– Tem toda razão! Mas essa é a nossa missão. Tu e eu fomos feitos para ser luz. O que eu, apenas como fósforo, posso fazer, é muito pouco. Minha chama é pequena e curta. Mas, se passo a minha chama para ti, cumprirei com o sentido de minha vida. Eu fui feito justamente para isso: para começar o fogo. Já você é a vela. Tua missão é brilhar. Toda tua dor e energia se transformará em luz e calor por um bom tempo.

Ouvindo isso, a vela olhou para o fósforo, que já estava no final da sua chama, e disse:

– Por favor, acende-me.



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