SÉTIMA JORNADA: IRMÃO CARLOS SOB O SIGNO DA CONVERSÃO PERMANENTE
(Em preparação ao aniversário de sua morte - 1º de Dezembro)
SÉTIMA JORNADA
IRMÃO CARLOS SOB O SIGNO DA CONVERSÃO PERMANENTE
“É preciso mudar muito para permanecer o mesmo”. A vida do Ir Carlos se constituiu de muitas conversões. Um dos traços marcantes de sua caminhada espiritual é a incansável capacidade de mudar. “É preciso mudar muito para permanecer o mesmo”, ensina-nos D. Helder Câmara.
A vida do Ir Carlos foi um peregrinar constante. Viveu com radicalidade e totalmente as várias etapas de sua conversão. Cada ponto de chegada, assumido como se fosse definitivo, se transformava em plataforma para uma busca de maior entrega ao Bem-Amado Irmão e Senhor Jesus e aos pobres: da França para a Síria, do mosteiro trapista para Nazaré, da Terra Santa para a África, da vila Béni-Abbès para o meio do deserto de Tamanrasset, dos privilégios de uma vida acomodada para a simplicidade de uma vida pobre e desinstalada, do desejo de impor o Evangelho para uma maneira de evangelizar mais do diálogo, do estar no meio do povo e do testemunho de vida.
Quando começou a viver no Saara, o Ir Carlos tentou converter os muçulmanos. Até pensou que, com a ajuda dos militares franceses, pudesse fazê-lo mais facilmente. Com o passar do tempo, deu-se conta de que estava enganado. Descobriu que a missão era muito mais exigente do que imaginava. Passou a ser mais paciente e gastou vários anos na convivência fraterna com o povo tuaregue, aprendendo e ensinando. Ele entrou no coração e sintonizou com os sentimentos da cultura tuaregue. Em seguida, descobriu os valores, a filosofia e a sabedoria dessa cultura através de suas lendas, provérbios e poesias, que constituem um presente de Deus para toda a humanidade.
Irmão Carlos foi homem sem meias medidas, mas vamos nos deter num momento privilegiado de sua vida na África. É uma das passagens mais difíceis, um momento doloroso e crucial muito próximo da morte, uma verdadeira Páscoa – passagem de Deus em sua vida e travessia que gera mudança e deixa marcas, talvez a última etapa de sua conversão.
Segunda-feira, 20 de janeiro de 1908. O Ir Carlos está pregado em sua cama. Sua casa, seis metros por dois, abriga a cama, a capela, a mesa de trabalho, a biblioteca, muitos papéis escritos. Ele está com 50 anos.
Não pode se quer levantar-se sem risco de desmaiar. Percebe que seu fim está próximo. Anota em seu caderno: “Sou obrigado a interromper meu trabalho. Jesus, Maria, José, dou-vos a minha alma,o meu espírito, a minha vida”.
Mas Deus não estava ausente. Presenciava tudo em silêncio, mas agia por meio das pessoas. Assim, Ba-Hamou alertou a todos sobre o que se passava com o Ir Carlos. Musa Ag Amastane consciente de sua responsabilidade com seu amigo apressou-se em fazer o que podia para salvá-lo. O que ocorreu naqueles dias é difícil de avaliar, tanto para a vida daquele povo, como para o Ir Carlos. “Mandaram buscar todas as cabras que tivessem um pouco de leite, nesta terrível seca, num raio de quatro quilômetros. As pessoas foram muito boas para mim”. O Ir Carlos ficou sensibilizado pela surpreendente bondade, não percebendo, porém, a radical mudança que estava ocorrendo nas suas relações pessoais e a profunda conversão que estava acontecendo com ele mesmo.
O Ir Carlos certamente não percebeu o alcance destes acontecimentos e nem o seu significado. Vamos tentar fazê-lo em seu lugar e descobrir nele uma parábola do Reino e uma luz que ilumina a sua e a nossa vida. Dom Guérin reconhecia que o Ir Carlos “como todos os que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus, sabia apreciar maravilhosamente as circunstâncias”.
Se não verbalizou a importância do que estava vivendo naquele momento é também porque estas realidades do Reino não se deixam captar facilmente. Estão escondidas como o trigo na terra e o fermento na massa. A pequenez destes sinais, sua insignificância é muito característica: um pouco de leite, um pedaço de pão.... Pensemos na viúva de Sarepta que colocou diante de Elias tudo o que tinha. Era tão pouco. Pensemos naquele menino que entregou alguns pães para alimentar uma multidão faminta. Gestos insignificantes que fazem milagres. São imperceptíveis, visto que demasiado comuns: uma visita, uma palavra, um gesto, um sorriso, lágrimas... Recorda o que lhe havia dito o Pe. Huvelin: "O importante não é aquilo que se diz nem aquilo que se faz, mas aquilo que a gente é". Convertido verdadeiramente num pobre doente permitirá aos que o verem, salvá-lo. Já não é apenas uma parábola, mas a realidade do Reino.
Necessitamos em nossas vidas de certas mudanças, que nos obriguem a dar um passo à frente, como se fosse uma morte. Quando se estreita o espaço para existir, quando não se pode fazer nada, quando a situação parece desesperada, quando nossa competência e nosso zelo se convertem em obstáculos, é bom recordar um antigo ensinamento que o Ir Carlos atualizou e se torna fonte de esperança. Os profetas nos ensinam que quando não se pode mais nada, aí é que Deus intervém. São Paulo se vangloria em sua fraqueza. "Quando estou fraco, então é que sou forte, porque tudo posso Naquele que me dá força"... (Dom Edson Damiam).
1. Meditação da manhã
“A debilidade dos meios humanos é a causa da força. Nosso despojamento é o meio mais poderoso que temos para nos unirmos a Jesus e fazer bem às pessoas. É o que São João da Cruz repete constantemente: quando se pode sofrer e amar, se pode muito” (Carta a Marie de Bondy em 01-12-1916, dia de sua morte).
2. Meditação do meio dia
“Tu me dizes que serei feliz, feliz da verdadeira felicidade, feliz no último dia. que por mais miserável que seja, sou palmeira à beira de águas vivas, águas vivas da vontade divina, do amor divino, da graça... e que darei meu fruto em seu tempo” (Escritos espirituais).
3. Meditação da tarde
“Tua regra: Seguir-me... fazer o que eu faria. Em tudo perguntes: ‘Que teria feito Nosso Senhor? ’ e fá-lo. É tua única regra, mas tua regra absoluta” (Escritos espirituais).
4. Momento de adoração
“Se o grão de trigo que cai por terra não morrer, permanecerá só; se morrer, dará muitos frutos... Eu não morri, por isso estou só... rezem por minha conversão a fim de que, ao morrer, eu produza frutos” (carta a Suzanne Perret).
5. Meditação da noite
“Como és bom, meu Deus! Tu és sempre o mesmo! Tu és sempre aquele que ‘não quebra a cana esmagada nem apaga a chama que ainda fumega! ” (Escritos espirituais).
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