PRIMEIRA JORNADA: A PROPOSTA EVANGÉLICA DE IRMÃO CARLOS
“Tua vida de Nazaré pode ser levada em toda a parte: leve-a para onde for mais útil ao próximo”. (Irmão Carlos)
JORNADAS EM NAZARÉ ACOMPANHADAS POR IRMÃO CARLOS
Este roteiro é para você que deseja se preparar para a festa do Irmão Carlos no dia primeiro de
dezembro e que, de alguma forma, comunga da sua espiritualidade.
Unidos e unidas uns com os outros em pensamento e coração fazemos memória daquele que, como Jesus de Nazaré, se fez pobre com os pobres no constante abandono ao Pai. Esta iniciativa fez parte das comemorações do centenário de sua morte no ano 2016 dentre outras atividades propostas pela Fraternidade Secular Charles de Foucauld.
O roteiro divide-se em sete reflexões. Inicia-se em vinte e quatro
de novembro e termina no dia trinta às vésperas da festa do Irmão Carlos.
Sugere-se que na véspera da festa os que puderem, reúnam-se em grupo para uma
vigília partilhando junto um momento de oração da noite.
As reflexões são simples: Um pequeno texto de introdução ao assunto
do dia (que pode ser meditado a qualquer hora do dia) recolhidos da caminhada
de pessoas que se inspiram nas pegadas de irmão Carlos e que lhe foram “caros”. Segue-se em cada dia, breves textos de seus
escritos para serem “ruminados” e rezados ao longo do dia: pela manhã, ao meio-dia, à tarde, um momento
de adoração, terminado com a oração da noite. Evidentemente cada qual adaptará
o roteiro ao seu ritmo de vida.
As reflexões do roteiro são as seguintes:
1º - A PROPOSTA EVANGÉLICA DE IRMÃO CARLOS;
2 º - SENTIDO EVANGÉLICO
DA EXPERIÊNCIA DO ABSOLUTO EM IRMÃO CARLOS
3 º -O DESERTO PARA IRMÃO CARLOS: LUGAR DO ENCONTRO COM DEUS
4 º - O MISTÉRIO DE NAZARÉ
5 º - A FORÇA QUE BROTA
DA EUCARISTIA
6
º- DO AFASTAMENTO À
APROXIMAÇÃO
7 º - IRMÃO CARLOS SOB O SIGNO DA CONVERSÃO PERMANENTE
Desejamos que estas “Jornadas” alimentem nossa caminhada na construção do Reino. Que Irmão Carlos interceda por nós e nos inspire no “gritar o Evangelho com nossa própria vida”.
PRIMEIRA JORNADA
A PROPOSTA EVANGÉLICA DE IRMÃO CARLOS
“Poderíamos começar dizendo que a
espiritualidade do Irmão Carlos é a experiência de ser e viver para os outros.
Digo isso porque a palavra “espiritualidade” sugere muitas vezes – em certa
tradição cristã ao longo dos séculos – algo aéreo, alienado, distante da
realidade. Onde e como situar essa proposta? Para isso, pode ser útil captar o
que o Irmão Carlos introduz de verdadeiramente novo na história da
espiritualidade cristã e o que há nela de inspirador para o momento de nosso
mundo e de nossa cultura.
Em grande parte, o mundo atual, a sociedade
atual, nossa cultura pós-moderna, se apresentam como um ‘mundo sem Deus’.... Ou
cada vez sentimos mais, no modo de viver das pessoas, a ‘ausência de Deus’.
Frente a isso, como eu qualificaria a
espiritualidade do Irmão Carlos? Com essa simples frase: “ Deus no coração do
mundo”. A experiência de Deus, nós a fazemos em plena realidade da vida com
todos os seus problemas. É aí que temos que encontrar Deus, é aí onde Deus tem
que iluminar a nossa existência. Creio que isso é uma das características da
vida, do modo de ser do Irmão Carlos e do que é o espírito dessa experiência,
de onde viria essa espiritualidade.
É uma espiritualidade da Encarnação. Por
isso é tão central nessa experiência descobrir Deus como o Deus de Jesus. Não
se trata de qualquer experiência espiritual ou de qualquer transcendência:
trata-se de um Deus que se revela no coração da realidade humana de Jesus.
Jesus não é simplesmente a roupagem humana de Deus, mas é Deus por dentro de
nossa existência humana, sentindo, experimentando, vivendo.
É preciso estar neste mundo, porque é o
mundo pelo qual Deus dá a vida e não se arrepende, não volta atrás; mas é
preciso estar como ele, de outra maneira. Claro que Jesus está neste mundo,
sofrendo o que faz sofrer todo ser humano. Não porque lhe agrade, mas por
opção, por amor, porque quer abrir esta realidade à experiência do amor próximo
(que está perto) de Jesus.
É isso que pode abrir-nos à experiência de
que a simples ‘presença’, esse ‘estar’, aparentemente inútil, não é tão inútil,
porque vai nos dando o sentido de que outro mundo é possível. E não como pura
utopia, como sonho, mas como realidade, porque esta realidade tão cruel já foi
tocada por essa presença do Senhor.
Esperar de maneira cristã não é esperar
cegamente, é esperar com sentido, com um sentido que está aí. Essa experiência
está no coração da espiritualidade do Irmão Carlos e é isso que o leva a ser
solidário com todos os homens e mulheres, com o mundo, com a realidade mais
dura; mas solidário com a mesma solidariedade de Jesus, com a solidariedade de
Deus.
À luz da experiência de Jesus, com o Irmão
Carlos aprendemos a estar na vida saboreando antecipadamente o fato de que cada
uma destas realidades pode ser religada a Deus, pode ser posta em ligação com
Deus, porque foi sentida por Deus, padecida por Ele e assim aberta ao Pai em
puro abandono.
É isso que nos permite crer verdadeiramente
que o ser humano é mais do que nos querem fazer crer. E apostar nisso é toda
uma espiritualidade.
Como classificar isso? É a espiritualidade
de Deus no coração do mundo. Poderíamos dizer que é essencialmente o Evangelho,
a simplicidade evangélica. Tão simples assim! Parece quase impossível. Mas que
significa a expressão ‘Senhor do impossível? ’ É essa a simplicidade da
espiritualidade; como dizia Francisco de Assis, no ‘Evangelho sem glosa’, não
ao pé da letra, mas sem glosa, isto é, sem adoçá-lo, sem que o matizemos
demais. Isso não é fácil, mas é o que o Irmão Carlos queria viver.
E é aí que aparece precisamente a
simplicidade dessa espiritualidade evangélica e o sentido profundo do estar, da
presença, do partilhar, do viver junto (...)E, portanto, é uma espiritualidade
eucarística no sentido que o Irmão Carlos lhe dá: a vida entregada, a vida
oferecida. São coisas tão simples e tão enormes, que as tragamos sem pensar.
Será isso o que vivemos? Será essa a
espiritualidade que transmitimos? Eu me refiro mais ao modo pelo qual a Igreja
se apresenta no mundo de hoje. No fundo, poderíamos dizer que essa
espiritualidade nos permite, num mundo aparentemente sem Deus, estar onde Deus
está e não onde o imaginamos ou onde queremos trancá-lo.
Num mundo como o nosso, cansado de grandes
discursos e já saturado de grandes relatos, se anseia e se grita por pessoas
que vivam. É isso que atrai, o que pode suscitar seguidores, o que tem poder de
fascinar as pessoas e é capaz de suscitar uma interrogação: Por que essa
maneira de ser? Como explicar essa vida? Estarão loucos?
São as mesmas interrogações que os
contemporâneos de Jesus se faziam sobre Ele: O que o leva a proceder assim? De
onde lhe vem tal autoridade? E não é preciso abrir a boca para isso, nem fazer
sermões, nem declarar a doutrina cristã. É a vida que é cristã.
No fundo, vejam como essa maneira de ser e
essa missão recolhe o que nos diz Jesus na parábola do Samaritano: essa
espiritualidade é a espiritualidade de fazer-me próximo/estar perto dos outros.
Portanto, a primeira missão dessa espiritualidade é o amor, a compaixão,
partilhar a própria vida e o próprio ser.
Dessa maneira – é o que vocês experimentam
diariamente – o primeiro que levam às pessoas é o sentido, devolvem-lhes a
dignidade, a possibilidade de acreditarem em si mesmas, de humanizarem-se, de
recuperar a esperança (...). Haverá melhor missão que essa?
Algo que parece tão simples, mas que os faz
entrar em cheio no Evangelho. É o que Jesus dizia ao afirmar: vocês têm que ser
fermento, têm que ser sal para dar sabor, luz que ilumine o tenebroso da vida.
Dessa maneira ajudam as pessoas a verem no humano – tão esmagado e sofrido – o
que não se vê: o invisível, Deus. Dessa maneira vocês os ajudam a crer no
futuro com esperança, apesar de tudo aquilo que a realidade parece dizer.
Esperar, como diz São Paulo, contra toda esperança.
A grande missão da Fraternidade, creio eu,
e sua grande novidade neste momento da Igreja e do mundo, é manter viva entre
nós, na Igreja, a memória viva do Evangelho. E como isso se mantém? Vivendo-o.
Assim o Evangelho se inscreve na vida. Um verdadeiro reescrever o Evangelho
hoje que é, de certa maneira o quinto Evangelho feito carne na história. Se
isso não é evangelizar, que será evangelizar?
Essa linguagem universal que todos
entendem, que significa ela na espiritualidade do Irmão Carlos? Eu creio que é
uma forma de transmitir, de fazer compreender que a experiência do Deus de
Jesus anima nossa vida, que essa espiritualidade humaniza. E esse humanizar é
um passo prévio ao de “cristianizar”.
A Irmãzinha Madalena o plasmou de modo
perfeito numa frase às Irmãzinhas de Jesus: “Sejam humanas antes de ser
religiosas”. Isso também é profundamente do Irmão Carlos.
Porque em Jesus se revela o humano como
Deus somente o sonhou e o quis.
Digam-me se essa espiritualidade não tem
futuro num mundo como o nosso. É a linguagem da vida e do ‘estar com’, do
testemunho. Estilo de vida que surpreende e chama a atenção, linguagem que todo
mundo entende. É inevitável que as pessoas se interroguem: de que vive aquele
que vive assim? Isso nos faz pensar na força das palavras que Jesus dirige aos
primeiros discípulos que se aproximam timidamente dele: Aonde vive? De que
vives?... Venham e verão. Não há outra resposta. Porque frente a vida não pode
haver respostas prontas. Ou aquilo que afirma João no início de sua primeira
carta: “o que vimos, o que ouvimos, o que tocamos com nossas mãos, o que os
nossos olhos penetraram, ... é o que queremos transmitir-lhes para que vivam”.
(Trechos da conferência do Pe. Carlos Palácios SJ às irmãzinhas de Jesus)
1. Meditação da manhã
“A imitação é a medida do amor (...): é o segredo da minha vida. Eu
perdi meu coração por esse Jesus de Nazaré crucificado há mil e novecentos anos
e passo minha vida tentando imitá-lo, na medida que a minha fraqueza permite. ”
(Carta a Gabriel Tourdes)
2. Meditação do meio dia
“Quão bom sois Vós! Como cuidastes de mim! Como me cobríeis com vossas
asas, quando eu não acreditava sequer em vossa existência. ” (Obras Completas)
3. Meditação da tarde
“Vossa primeira graça, aquela em que vejo a primeira aurora de minha
conversão, foi que me obriguei a passar pela experiência da fome (...) quando
me voltei para Vós, bem timidamente, às cegas, fazendo esta estranha oração:
‘Se existis, fazei que vos conheça’...” (Obras Completas).
4. Momento de Adoração
“O Islã produziu em mim uma profunda reviravolta... Ver essa fé, essas
almas vivendo na continua presença de Deus fez-me entrever algo maior e mais
verdadeiro do que as ocupações mundanas”. (Carta a Henry de Castries)
5. Meditação da Noite.
“Assim, aquele que vive de fé tem a alma cheia de pensamentos novos, de
gostos novos, de julgamentos novos: são horizontes novos que se abrem diante
dele, horizontes maravilhosos, iluminados por uma luz celestial e belos da
beleza divina (...) Envolvido por essas verdades totalmente novas que o mundo
nem desconfia, ele necessariamente começa uma vida nova (...) Que aquele que vê
a luz lhe dê seu devido valor, a estime infinitamente, a ela se agarre
inviolavelmente, siga-a sempre, não se deixe desviar por nada” (Obras Completas).
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