SEGUNDA JORNADA: "SENTIDO EVANGÉLICO DA EXPERIÊNCIA DO ABSOLUTO EM IRMÃO CARLOS"
JORNADAS EM NAZARÉ ACOMPANHADAS POR IRMÃO CARLOS
(Em preparação ao centenário de sua morte)
SEGUNDA JORNADA
SENTIDO EVANGÉLICO DA EXPERIÊNCIA DO ABSOLUTO EM IRMÃO CARLOS
De acordo com a experiência do absoluto, Jesus se apresenta (a Ir. Carlos) como esse Alguém a quem o homem está buscando. A encarnação tem desta maneira um duplo sentido: Deus busca o homem e o homem busca a Deus.
São João em sua primeira carta nos diz que foi Deus quem tomou a iniciativa de nos amar. “Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho” (1 João 4:10). Deus toma a iniciativa para responder a uma busca do homem que se veria frustrado sem a resposta de Deus. Completa-se um duplo movimento: de busca e resposta, o que nos custa muito vivenciar.
Na busca intelectual de Deus tudo é raciocínio; é o homem que busca, então se pode dizer que Deus é uma criação do homem. A perspectiva de Jesus é outra: é Deus que busca o homem.
Não obstante, Ele só chega como resposta quando alguém O busca. Deus me dá liberdade de acolhê-Lo ou ignorá-Lo. Simplesmente que quando O acolho, O recebo como alguém a quem espero, em última instância é uma graça que Deus está me concedendo.
Isto é evidente na conversão de Irmão Carlos. Ele havia ficado muito impactado com a maneira com que os muçulmanos viviam a experiência do absoluto de Deus. Já fazia um tempo que buscava a Deus; busca esta que expressou em uma frase que repetia sempre: “Deus meu, se existes faça com que eu te conheça”; busca que o levou ao padre Huvelin. No entanto, está ainda em uma busca do tipo intelectual, isto é, só aceita o que se lhe apresenta com clareza; ele é ainda como o homem que dirige a ação.
É então que Ir Carlos se aproxima mais do padre Huvelin e este lhe convida a ajoelhar-se, confessar e comungar. Em síntese é como lhe dissesse: “acolha o Senhor que o está buscando; que lhe pede que aceite receber sua graça”. Assim, a presença de Jesus em nossa vida é uma graça que só se manifesta quando O buscamos.
O amor é pura graça. Nem sequer exige méritos. Deus não nos cobra o seu amor, mas nós só O descobrimos quando acolhemos essa experiência de amor que Ele nos comunica. Quando Jesus diz que “ninguém chega até mim senão pelo Pai” (Jo 5,30ss) está dando ênfase a iniciativa do Pai. Agora o Pai se dá a conhecer em cada momento da vida do homem.
O chamado de Deus no interior da pessoa
Deus como o Absoluto não se aproxima de cada um de nós fora de nossa vida, pelo contrário, está presente em todas as nossas experiências. Em muitos profetas do Primeiro Testamento Deus se faz presente a todo instante. Assim também na vida de Irmão Carlos. Em sua situação familiar, nos encontros com as pessoas mais variadas, com o povo... vê a proximidade de Deus. Tem a firme convicção de que este Deus o atraia para Si desde o seu nascimento. “Antes de formá-lo no seio de tua mãe eu te chamei” (Jr 1,5)
Deus vem em cada detalhe da existência humana e respeita plenamente nossas opções. Nele tudo ganha sentido; apenas nos pede esta abertura e disponibilidade permanentes. Se na vida de Irmão Carlos há uma insatisfação contínua, um questionamento permanente de suas experiências é aí que Deus se faz presente como Dom.
Outro elemento a ressaltar é que Deus vem a nós como resposta a todas as nossas aspirações, chega ao profundo de nós mesmos. Jesus se oferece como nosso absoluto. É um absoluto no sentido de que é a resposta a tudo o que busca o homem; mas é também um absoluto que se revela na condição ordinária da vida de uma pessoa, no concreto de uma existência. Ele não vem como Alguém estranho, mas como alguém submerso totalmente no banal, no cotidiano da vida.
O que apaixona profundamente irmão Carlos: Deus que entra em comunhão com o homem em Jesus e se converte para ele em uma força que o faz lançar-se em direção aos outros. Para ele o segmento de Jesus significa lançar-se em direção aos outros e não se fechar em Jesus. Acredita que se Deus o amou, não só deve amá-Lo, mas também amar os outros como Ele os amou (Federico Carrasquilla, Volver a Jesus de Nazarét).
1. Meditação da manhã
“Assim que acreditei que havia um Deus, compreendi que só havia uma coisa a fazer: viver só para Ele. Minha vocação religiosa data da mesma hora que minha fé. Deus é tão grande! Há uma diferença tão grande entre Deus e tudo o que não seja Ele!... “ (carta a Henry de Castries).
2. Meditação do meio dia
“Para chegar ao amor de Deus, pratique o amor aos homens: em todo humano veja o filho de Deus, um irmão de Jesus pelo qual ele morreu, uma alma a salvar... Ninguém conduz ao amor de Deus: somente a caridade dirigida a seus filhos que sempre estão sob Seus olhos”. (Carta a Louis Massignon)
3. Meditação da tarde
“ Acolhamos o Evangelho. É pelo Evangelho, segundo o Evangelho, que seremos julgados... não segundo este ou aquele livro de tal mestre espiritual, deste ou daquele sábio, de tal santo ou de outro, mas segundo o Evangelho de Jesus, as palavras de Jesus, os exemplos de Jesus, os conselhos de Jesus, os ensinamentos de Jesus” (Escritos Espirituais)
4. Momento de Adoração
“Através de uma série de circunstâncias surpreendentes me empurraste para Vós (solidão inesperada, emoções, enfermidades dos familiares, sentimentos ardentes do coração e necessidade de recolhimento, de leituras espirituais, de entrar numa igreja, a busca da verdade e esta oração “Meu Deus, se existis, que eu te conheça! ”). Quantas graças interiores! .... e depois, o desejo de imitá-Lo, de buscar uma vida conforme a Vossa e compartilhar completamente Vossa abjeção, vossa pobreza, vosso trabalho humilde” (Retiro em Nazaré, 1897).
5. Meditação da Noite
“Te dou graças meu Deus por ordenar-me confiarem Vós. Eu me confio ao Senhor, me abandono Nele (salmo 10). Confiar no Bem-amado... Não pensar mais em si mesmo, senão descansar naquele a quem se ama... Cumpramos a vontade de Deus.... não fujamos, não escapemos como um pássaro. Por que temer? O Senhor está aqui em sua tenda. Abandonemo-nos!” (Meditação sobre o AT).
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