TERCEIRA JORNADA - O DESERTO PARA IRMÃO CARLOS: LUGAR DO ENCONTRO COM DEUS
JORNADAS EM NAZARÉ ACOMPANHADAS POR IRMÃO CARLOS
(Em preparação ao aniversário de sua morte - 1º de Dezembro)
TERCEIRA JORNADA
O DESERTO PARA IRMÃO CARLOS: LUGAR DO ENCONTRO COM DEUS
..., eis o que encontramos na carta enviada em 19 de maio de 1898 ao pe. Jerônimo:
“É preciso passar pelo deserto e aí permanecer por algum tempo para receber a graça de Deus: é nele que nos despojamos, que afastamos de nós o que não é Deus e que esvaziamos completamente a pequena morada de nossa alma para deixar todo o lugar exclusivamente para Deus”.
Que deserto é este por que devemos passar para encontrar a graça de Deus? Ou que lugar específico devemos ir se queremos estar com Deus? Quanto tempo devemos aí permanecer para receber a graça de Deus? Qual foi o deserto por que Foucauld passou até dizer estas palavras?
Uma das hipóteses que podemos levantar é de que ele aprendera com os muçulmanos quando estava na pesquisa geográfica da demarcação do Marrocos. Ele presenciara os horários de oração dos muçulmanos quando estes ajoelhavam-se em qualquer lugar em que estivessem, voltavam-se para Meca e faziam suas preces. Ao mesmo tempo, mantinha-se calado, uma vez que o pouco falar ajudava-o a manter no anonimato a sua identidade.
Mas, Foucauld também aprendera logo no início de sua caminhada, com o seu diretor espiritual, o que significava rezar, o que significava viver uma vida de oração. Começou a sua caminhada sabendo que orar era estar em diálogo com Deus, um diálogo que tem falas e escutas de ambos os lados, no silêncio e na solidão. Oração é o diálogo da alma com Deus, como ele dizia.
Assim, sendo um diálogo familiar, ele deveria ouvir o que Deus falava e para isso necessitava de muito silêncio interior, silêncio tal que seus desejos de possuir, de ter, de satisfazer seus instintos... se calavam. E para isso, não poucas vezes necessitava de tempo. A fala de Deus, mesmo sendo com muito amor e misericórdia, tem momentos de exigência, de permissão de dores e sofrimentos. Não é um Deus que só dá “doces e presentes”, mas um Deus que está sempre presente e dando-nos oportunidade de crescimento humano. Ele nos deseja adultos, maduros, conscientes e livres. Ele quer que seus filhos cresçam, e muitas vezes é a dor que contribui para a maturidade.
Foucauld percebeu que o silêncio exterior colaborou muito para que ele, no início, obtivesse o silêncio interior. A trapa o orientou. E para quem vive numa grande cidade e trabalha, como isso é possível?
Também aprendeu que deveria pedir e agradecer, mas nunca deveria viver no comodismo. A oração é um momento muito exigente, é um trabalho incessante. É nela que podemos desabafar com Deus nossas angústias, nossas dores, agradecer nossas alegrias e saber esperar pacientemente a resposta. É nesse momento que se pode perceber quanto Deus é de uma paciência infinita conosco e misericordioso. Ele é de uma fidelidade sem restrição. É presença constante.
Dessa compreensão de oração foi um passo para perceber a necessidade de fazer deserto, isto é, procurar silenciar interiormente e exteriormente.
Não podemos deixar de intuir que é necessário passar pelo deserto se quisermos receber a graça de Deus – e não somente passar, mas permanecer aí por algum tempo. Este tempo dependerá de cada pessoa, pois somente cada um sabe o que juntou dentro de si, e essas migalhas juntadas atrapalham deixar o coração e a alma livres para receber a graça de Deus.
(...)
Para estar no deserto aprendemos que é melhor estar sós. E o fato de estarmos sós, também produz situações benéficas para todos, e não somente para a pessoa que vai ao deserto.
(...)
Na verdade, aquele que aparentemente parecia estar na solidão, estava construindo uma série de relações fortes de amizade, a ponto de sentir-se e ser acolhido como membro do povo local, do país e de aumentar a possibilidade de aproximação da vizinhança.
Geralmente, as pessoas que convivem com outras, à medida que rezam, sentem a necessidade de fazer alguma coisa em prol dessas pessoas. Entretanto, para Foucauld fazer alguma coisa para as pessoas significava realizar o que pudesse fazer por elas sem que os gestos e feitos aparecessem. Isto é, buscar cada vez mais a solidão e estar em silêncio, pensando no Amado, era seu objetivo principal. Mas não podemos esquecer que amar Jesus significava para Foucauld amar o próximo, pois sempre tinha diante de si a família de Nazaré. Esta entrega de si foi o bastante para que tudo se transformasse num bem maior.
Estar no deserto também nos parece estar em constante vigília, atentos para que se faça justiça conosco e com o próximo. Não é viver à parte e calar-se sem se comprometer. Por isso, um dos lemas de Foucauld será: temos que gritar o Evangelho com a vida... ele sabia que o deserto pode ser vivido no meio de muitas pessoas, pois trata-se da condição da alma de estar diante de Deus. O silêncio interior que é produzido na alma e pela alma pode permitir que passemos e permaneçamos no deserto até quando Deus e eu queiramos, mesmo quando estamos no meio de uma multidão.
Na vida urbana temos a possibilidade de viver o deserto em um dos cômodos de nossa casa, num jardim, numa praça da cidade. Podemos também ir aos poucos silenciando interiormente e assim perceber que o exterior se fará silencioso.
Também podemos fazer o nosso deserto deixando os nossos afazeres (quando são só nossos) para ouvir e colocar-nos à disposição do outro que chega. Ouvir atentamente. Penso ser este o mais difícil no momento em que vivemos.
Para finalizar lembremos o que disse Charles de Foucauld quando passou pela região do Hogar pela primeira vez, no dia 26 de maio de 1904.
“Para quem é de recolhimento, é o amor quem deve te recolher em Mim interiormente e não o distanciamento das minhas crianças”.
Nesta citação, Foucauld lembra-nos que todos os que vivem a solidão e recolhidos devem estar interiormente em Jesus, e quem está em Jesus irá ao encontro das pessoas sem distanciá-las. (Trechos do livro de Pedro Paulo Scandiuzzi. A Mensagem de Charles de Foucauld para a vida do leigo. Pág. 49 a 56).
1. Meditação da manhã
“Bendigo a Jesus pelas surpresas que nos concede na oração; haverá muitas; cada uma vem em sua hora; na hora mais útil; ... escute Aquele que está sempre à porta e chama, seu coração se encherá cada vez mais... você amará cada vez mais a Deus e a todas as criaturas porque são reflexo d'Ele”. (Carta a Louis Massignon).
2. Meditação do meio dia
“É preciso passar pelo deserto e aí permanecer por algum tempo para receber a graça de Deus: é Nele que nos despojamos, que afastamos de nós o que não é Deus e que esvaziamos completamente a pequena morada de nossa alma para deixar todo o lugar exclusivamente para Deus”. (Carta ao p. Jerônimo)
3. Meditação da tarde
“O que há de maravilhoso por aqui é o pôr do sol, o entardecer e a noite. Vendo esses belos crepúsculos, relembro o quanto eles lhe agradam, pois evocam a bonança que virá após a tormenta do nosso tempo. Os fins de tarde são tranquilos, as noites tão serenas, este céu imenso e estes vastos horizontes parcialmente iluminados pelos astros são tão tranquilos e, silenciosamente, de uma maneira tão penetrante cantam o Eterno, o Infinito, o Além, que seríamos capazes de passar noites inteiras nesta contemplação; no entanto, abrevio estas contemplações e, depois de alguns instantes, dirijo-me para o sacrário, pois há muito mais do que tudo isso no humilde sacrário. Tudo é nada comparado ao Bem-Amado”.(carta a Marie de Bondy)
4. Momento de adoração
“Adoração... essa admiração sem palavras que é o mais eloquente dos louvores... essa admiração sem palavras que encerra a mais apaixonada declaração de amor...” (Escritos espirituais).
5. Meditação da noite
“A oração é toda comunicação da alma com Deus. É ainda aquele estado da alma que olha para Deus sem falar, ocupada unicamente em contemplá-Lo... A melhor oração é a que contem mais amor. Quanto mais carregado de amor estiver o olhar da alma e ela se mantiver mais ternamente, mais amorosamente diante de Deus, melhor será” (cartas e anotações).
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