SANTO

Hoje completa-se três  anos da elevação de Charles de Foucauld  à categoria de santo da Igreja Católica por iniciativa do papa Francisco que tanto o admirava. Mas onde reside a santidade deste homem que ao encontrar o absoluto de Deus quis mergulhar na misterioso caminho de entrega total a este Deus que se encarnou em Jesus de Nazaré?

Os traços desta entrega sem dúvida já se encontravam antes mesmo de sua conversão religiosa. Sua vida caracterizou-se desde sempre pelo “tudo ou nada” de suas opções de vida desde a juventude. Fazia parte de sua personalidade este dar-se inteiramente aquilo que o tocava: suas aventuras pelos desertos do Marrocos como suas aventuras amorosas e prazerosas nas ruas de Paris. Eis aí um traço de sua vida: abandonar-se. Abandonar-se àquilo que a vida fácil e o dinheiro fossem capazes de proporcionar bem como abandonar tudo  por um projeto de vida., por um Bem maior.

A santidade, embora obedeça a  ação da Graça não desconsidera as escolhas individuais. É no caminho trilhado que o chamado para aventura humana se concretiza. Foi assim com Foucauld. O sopro do Espírito  nele foi acontecendo como brisa suave como a Elias no monte Horebe. Nas ruas insatisfatórias de Paris do final do século XIX, nas areias do deserto do Saara, nas conversas com sua prima Maria ou nas admoestações do padre Huvelin. Este peregrino soube  colocar-se na escuta deste Deus que fala no silêncio da brisa suave e na força para caminhar.

Nada de extraordinário para alguém que viveu intensamente todos os momentos de sua vida sorvendo até a última gota mesmo que muitas vezes de águas amargas!

Mas foi este coração inquieto que o levaria às fontes de Água Viva e que daí por diante jamais deixaria de o saciar. O que chamamos de conversão de irmão Carlos foi só o início de um processo lento de volta às fontes da Graça que o impulsionavam na descoberta de novos horizontes. Sua santidade, se assim podemos dizer, é companheira de sua inquietação. Ele experimenta os caminhos do Deus de Jesus que não está num olimpo, no além, mas nas dores do Mundo, que se mistura na carne e no sangue do humano. Um Deus que se faz humano, que compartilha, que consola, que toma as dores de quem vive na aflição.

Diante do Absoluto de Deus, Foucauld percebe sua pequenez, sua incompletude e por isso se abandona sem medida a este Absoluto. Seu abandonar-se não é um movimento de volta egoísta para si mesmo, ele intui que a Encarnação do Filho de Deus o lança nos caminhos dos homens e das mulheres que são seus irmãos, suas irmãs. Sim, há  o encontro com este Jesus no silêncio das areias do Saara, mas neste mesmo silêncio geográfico encontra o outro, o diferente de si que tem uma dignidade  própria, que é filho e filha de Deus.

Charles de Foucauld santo. Santidade abjeta, escondida, insignificante, fermento na massa, grão de trigo que morre para dar frutos. Para ele seria um estranhamento elevá-lo aos altares! Para nós que trilhamos seu caminho um homem entregue sem medida a este  Deus em Nazaré, convite a pequenos gestos transformadores que iluminam um mundo em desencanto.

 Miguel Savietto

Fraternidade Secular



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