A coragem de perdoar - Irmãzinha Madalena de Jesus


Este texto foi retirado do livro da Irmãzinha Annie de Jesus: "Irmãzinha Madalena de Jesus: a experiência de Belém até os confins do mundo" (referência abaixo)

"Em seus corações ressoe cada sofrimento"
 
A coragem de perdoar

Na primavera do ano de 1975[1], o Exército de Libertação do Vietnã do Norte desencadeou uma ofensiva fulminante que mergulhou todo o país numa situação dramática. Dezenas de milhares de refugiados invadiram as estradas e muitos abandonaram o país. As irmãzinhas optaram por ficar ali, em solidariedade aos pobres. Irmãzinha Madalena escreveu: "Mesmo tendo muita preocupação com elas, minuto por minuto, estou plenamente de acordo com elas". 

Em 30 de abril, o exército revolucionário entrou em Saigon, que se tornou Cidade de Ho Chi Minh; a essa altura, todo o país passou a ficar sob o regime marxista.

Pouco mais tarde, foi o Líbano que se afundou na guerra, enquanto na África do Sul a repressão policial impiedosa era contra a resistência antiapartheid, e no Chile, após dois anos sob a ditadura militar, toda oposição foi duramente reprimida. As irmãzinhas viveram no centro dessas situações, e vários membros de suas famílias ou amigos, obrigados a fugir de seus países, chegaram a Tre Fontane. Irmãzinha Madalena recomendou que fossem acolhidos com todo o carinho, quaisquer que fossem as suas opiniões políticas. E escreveu em dezembro de 1976:

Estamos mergulhadas nos sofrimentos do mundo. Acolhemos quatro chilenos saídos da prisão depois de serem torturados: temos também uma família libanesa, a irmã de uma irmãzinha. Que Deus ponha um fim a esses horrores. Há um surto de violência... (CV, p. 418)


Ao se dirigir às irmãzinhas, às vésperas do Natal, irmãzinha Madalena rememorou esse mundo onde a violência é respondida com a violência, alimentando o rancor, e as persuadiu a viver ainda mais o perdão e a reconciliação entre elas:


Vivemos num século em que existem muitas possibilidades de perdão. No Líbano, por exemplo, como as pessoas poderão viver novamente juntas se encontram na rua quem matou seu pai ou seu irmão? Só Cristo pode dar essa coragem; do contrário, as guerras não acabarão nunca, se for preciso vingar-se sempre daquele que matou por último.

Então, quando pedimos a vocês que se perdoem, diante de tais situações isso nem é grande coisa. Gostaria que nada restasse em seus corações no dia de Natal. Uma irmãzinha a magoou, outra não a entendeu, uma terceira lhe disse uma palavra um pouco dura: é preciso perdoar-lhe e esquecer, senão vocês não podem chegar felizes ao dia de Natal. Relevemos todas as sombras, porque o Natal é a festa da alegria. Isso não vai impedir que algumas sofram. Há uma grande diferença entre tristeza e sofrimento. A tristeza faz vocês se fecharem em si mesmas, ao passo que temos o direito de sofrer, até no

dia de Natal, ao pensar em todos aqueles que passam esse dia na prisão, em meio às torturas… 

Mas, apesar de tudo, que haja alegria no coração de vocês e, principalmente, esperança. É preciso que, em suas Fraternidades, vocês se perdoem e comecem de novo no Natal. (Ibidem, pp. 420-421)


[1] Primavera do Hemisfério Norte, portanto, de março a junho. [N.d.T.]


Referência:
JESUS, Irmãzinha Annie de  Irmãzinha Madalena de Jesus: a experiência de Belém até os confins do mundo. Tradução: Irami B. Silva. São Paulo: CIDADE NOVA, 2012. Cap. XI, p. 149-150.

Título do original: Petite Sœur Magdeleine de Jésus: l'expérience de bethleem jusqu'aux confins du monde. Les Éditions du Cerf - Paris – 2008.



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